quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Monumento de Homenagem aos Combatentes

festas 2012 - monumento

Desde há uns anos a esta parte, o Centro Social Recreativo de Cultura e Recreio da nossa aldeia vem organizando, na Primavera, um almoço – convívio dos igrejinhenses, naturais ou residentes, que estiveram nas diferentes colónias portuguesas em missões militares.

O império português, herdado da nossa saga de marinheiros e descobridores motivada pelo comércio e pela expansão da fé cristã, estendia-se além – Europa, ainda na segunda metade do século XX, desde as ilhas atlânticas de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, passando pelos vastos territórios do continente africano de Guiné, Angola e Moçambique, até aos pequenos enclaves de Goa, Damão e Diu, no subcontinente indiano, a Macau, no sul da China, e a metade da ilha de Timor, no extremo oriente, a norte da Austrália.

Ainda no primeiro quartel do século XIX, em 1822, o Brasil, a nossa enorme colónia da América do Sul, havia proclamado a sua independência, na sequência da presença da corte portuguesa que ali se havia refugiado para não ter que capitular perante a força do invasor francês. Essa independência enquadrou-se, aliás, num vasto movimento independentista que se iniciara com os Estados Unidos da América do Norte (que se libertou do domínio inglês) a que se seguiu a dos domínios franceses e espanhóis na América. No caso do Brasil foram as elites brancas locais quem provocou a separação, com o herdeiro da coroa portuguesa, D. Pedro, à frente.

A segunda grande vaga de independências de territórios dependentes de países europeus deu-se já não no século XX, nalguns casos após guerras violentas; tiveram especial impacto mundial e repercussão entre nós as independências da União Indiana (do Reino Unido) e da Argélia (da França).

O regime ditatorial português, que governava desde o final dos anos vintes, recusou-se, até ao fim, a discutir o problema colonial, mesmo depois da anexação dos territórios indianos (1961) pela recém – independente União Indiana, mesmo depois de todas as outras potências europeias terem concedido a independência aos seus territórios. Em poucos anos, a Itália, a Inglaterra, a França, a Bélgica reconheceram a independência às suas inúmeras colónias africanas, o que tornava evidente a irreversibilidade desse movimento acelerado pelos “ventos da história”. Só em 1960 nasceram dezoito novos países em África; perante a irredutibilidade em negociar do governo de Salazar, no ano seguinte os movimentos de libertação de Angola pegaram em armas…

Depois de Angola, os confrontos abertos contra a nossa ocupação começaram na Guiné em 1963 e em Moçambique em 1964. Só depois da Revolução do 25 de Abril Portugal reconheceria o direito dos povos das colónias à independência.
Durante esses catorze anos cerca de um milhão de portugueses passou pelas diferentes frentes de guerra. Desses morreram quase nove mil e ficaram feridos cerca de trinta mil; milhares de ex – combatentes sofrem, ainda hoje, de stress pós – traumático de guerra.

Da nossa aldeia foi a bem mais de uma centena de homens que o pais pediu esse sacrifício de vários anos, nos anos de plena realização. Marcados para o bem a para o mal pelos sacrifícios, privações e perigos, eles constituem-se como uma geração bem definida da qual a aldeia se orgulha pelo exemplo que deram de cumprimento do dever a que a nação os chamou.

Por isso, não é de estranhar que tenha sido criada e mandatada uma comissão para conduzir os trabalhos com vista à edificação de um monumento de homenagem aos combatentes na nossa aldeia; a homenagem é, aliás, extensiva aos igrejinhenses que há quase um século se bateram em nome da pátria nas trincheiras da primeira grande guerra.

Para traduzir os sacrifícios e a honra do dever cumprido desses igrejinhenses pedimos ao escultor João Sotero, residente e com “atelier” no nosso concelho, que propusesse uma obra de arte pública a inaugurar em 2014, ano em que se perfaz um século desde o início da primeira grande guerra e quarenta anos desde fim da guerra colonial.

Para custear essa obra está aberta uma subscrição pública através da qual todos poderão associar-se a esta homenagem aos igrejinhenses que estiveram na guerra em defesa da pátria.

Nesta festa de 2012 estará exposto o modelo da peça escultórica, a realizar em aço e a instalar num arruamento da aldeia, com o acordo e o apoio da nossa Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Arraiolos.

(Texto de Manuel J. Branco, publicado na revista dedicada às Festas 2012)

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